segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ser feminista é como ser baixinha (parte 1).

Cheguei a essa conclusão depois de 3 anos sendo feminista e 27 sendo baixinha. Quando vc é baixinha é tratada quase como se vc fosse doente. Algumas pessoas pensam que a culpa é sua que não selecionou bem os genes na hora de virar zigoto (ou sei lá qual é a primeira fase). Tem aquelas pessoas que te dão dicas, se não para crescer, para parecer maior. Coisas bem inusitadas que vão desde usar sapatos de dragqueen até jogar todos os seus cintos fora pq encolhem a silueta. Mas o melhor mesmo são as pessoas que são burras a ponto de pensarem que vc nunca ouviu uma piada de baixinho (curiosamente essas pessoas costumam ser um pouco maiores do que vc). Para esses eu tenho 3 possíveis respostas: pelo menos eu não sou burra como vc; eu gosto de fazer pessoas mediocres como vc felizes, afinal ser um pouco maior do que eu é sua única qualidade; e a terceira é dar uma lista de apelidos melhores e mais criativos para que o imbecil se convença de que é impossível ele te ofender mais do que com o simples fato de existir.

Ser feminista é quase isso. Pode ser resumido em ter que responder sempre as mesmas perguntas. Infelizmente as pessoas nunca se informam antes e ainda tem em mente conceitos ultrapassados e uma visão preconceituosa do que é ser feminista. Para aqueles que acreditam que o feminismo é algo ultrapassado eu convido a assistir o jornal local e o nacional de qualquer emissora. Provavelmente vai ver alguma notícia de uma mulher morta pelo namorado, ex-namorado, marido, ex-marido ou apenas um homem que gostava dela e que levou um fora. Além desse tema procure ver alguma injustiça contra a mulher, uma adolescente presa numa cela com vários homens tendo que prestar "favores" sexuais a eles. Ou até mesmo uma pesquisa do IBGE, IBOPE, IPEA dizendo que as mulheres tem mais escolaridade, mas ganham menos e ocupam poucos postos de comando. Quem sabe até uma notícia relatando o fato de alguma mulher ter morrido após tentar fazer um aborto. Pode ser que tenha morrido ao dar a luz a um bebê anencéfalo, pois nesses casos, mesmo com o alto risco para mulher, somos obrigadas a levar a gestação adiante apenas por valores religiosos. Talvez ainda, ao ver uma notícia sobre alguma mulher que morreu fazendo uma lipo vc não consiga ver o que há de feminista aí, mas o fato dessas coisas ainda acontecerem afirma de que algo que não atingiu os seus objetivos não pode estar ultrapassado.

O fato da palavra feminista ainda carregar essa conotação negativa faz parte de uma tática que consiste em desqualificar o locutor desse discurso com argumentos inverossímeis e que não fazem parte da discussão (como por ex. chamar a feminista de feia, mal-amada) para que nós não tenhamos nem a oportunidade de defendermos o nosso argumento, afinal, depois de sermos ofendidas, a conversa vai mudar de rumo. O que eu quero dizer com essa "comparação" é que os homens tem especial interesse em desqualificar as feministas. Como suas esposas se contentariam com a falta de talento na cama, a inutilidade masculina nos assuntos domésticos, a ausência paterna na criação dos filhos se fossem feministas? Os homens teriam que crescer, amadurecer se as mulheres fossem feministas. É muito mais fácil ter uma Barbie dentro de casa que uma mulher feminista. É bem mais fácil ser uma marionete pois assim não se é questionada. Sem ser questionada sempre se tem a sensação de estar fazendo a coisa certa, o "natural". Afinal de contas, mulheres são seres frágeis e incapacitados que só servem para o trabalho doméstico e para a maternidade. Indivíduos são homens, mulheres são mães. Se vc está contente com essa situação diga "não sou feminista". Se não está, comece a se informar, pois o conhecimento é poder que quem tem poder não o cede de graça. Se vc quer conquistar seu lugar ao sol nesse mundo "masculino" seja feminista e não tenha vergonha de dizê-lo.