quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ser feminista é como ser baixinha (parte 2).

Respondendo ao comentário da minha amiga e continuando a discussão. A Mari disse: "Não acho que eu precise ser feminista pra "conquistar meu lugar ao sol". Pra mim isso é a mesma coisa de dizer que preciso ser religiosa pra acreditar em Deus." Eu adoro as anologias dela, mas as vezes não fica muito bom. Ser religioso e não acreditar em Deus é que é estranho. Ou ainda dizer que acredita em deus e é ateu é não conhecer as nomenclaturas.

As mulheres tem medo de serem feministas. A palavra é feia e assusta. "Que homem vai me achar sexy e interessante com um background desses?" Essa visão é interessante porque já começa errada. Vou usar o conceito do meu novo eleito, Bourdieu, para explicar. Quando Levi-Strauss (que muitas pessoas só conhecem por ter inspirado o nome da grife Levis) analisou os povos primeiros ele descobriu que as mulheres eram a moeda de troca no sentido de criar laços entre duas famílias. Mas ele acabou desconsiderando muito mais e aí o Bourdieu explica. As mulheres tem a função de agregar valor simbólico aos seus homens. O valor delas é serem capazes de elevar a virilidade de seu macho. Hoje em dia as coisas ainda funcionam assim. O fato dos homens não quererem se casar ou ter um relacionamento sério com uma mulher que tem controle da sua vida sexual e da qual todos sabem ter saído com muitos homens é uma prova de que esse pensamento continua vivo. Nenhuma mulher quer ser mal falada pois isso faz seu valor cair no mercado. Quem dá o lastro nessa mercadoria é o homem.

Digamos que ser feminista faz nosso valor simbólico cair pois lutamos justamente contra aquilo que agrega "valor de mercado" às mulheres. Todxs xs estudiosxs são muito clarxs em afirmar que esse valor é composto pela castidade, bons modos, beleza e etc. Uma coisa interessante é que eles não aparecem exatamente como foram criados, mas ainda vigoram. Por exemplo a castidade. A mulher não precisa ser virgem (alguns homens tem até medo, pois as mulheres já podem dizer que um homem é rium de cama), mas também não pode ser rodada. Na minha visão, e agora eu falo de uma postura intelectual e de vida, quando uma mulher diz que não é necessário ser feminista para querer ter seu lugar ao sol ela pode estar dizendo duas coisas:
- Tenho muito valor simbólico e por isso posso ter um homem poderoso e com isso pegar uma carona no poder dele e ter uma boa situação de vida e ser bem vista na sociedade ou;
- Não sei o que ser feminista significa mas todos falam mal e eu quero que os homens me tenham em alta conta. (isso acaba soando como "quero manter meu valor simbólico mesmo sendo uma mulher inteligente").

Para quem tem medo da teoria feminista ou ser pega lendo um "Segundo Sexo" (que é um pouco ultrapassado, mas é por onde quase todas nós começamos), vou dar uma dica. Virgínia Woolf é uma das escritoras mais aguçadas que eu já li e seu livro "Um teto todo seu" é uma das discussões mais interessantes que eu já li sobre a condição da mulher e o fazer literário. Para quem quer se iniciar ou falar mal eu sugiro que ao menos conheça algo. Outro texto clássico é o da Gayle Rubin "The traffic in the women". Quase me esqueci, temos a nossa representante. Marilena Chauí em seu livro "Repressão Sexual: essa nossa (des)conhecida".

continua...