sexta-feira, 31 de julho de 2009

Aparência

Eu às vezes me surpreendo com a futilidade de algumas pessoas. Me surpreendo mais ainda com a desconfiança de que as vezes ainda posso ser assim e a de que com certeza, antigamente eu fui assim.

Eu estava numa defesa de tese de mestrado na UnB e uma das integrantes da banca era uma professora que é conhecida no departamento por ainda se vestir à moda dos anos 80. Quem não a conhece se arriscaria até mesmo a chamá-la de brega, mas eu sei que ela não está nem se importando para aparência, por isso aquele estilo. O que me chateia é que muita gente usa a maneira dela se vestir para julgar a capacidade intelectual dela. Oras, se ela fosse estilista dava até pra julgar a sua capacidade (muito embora eu acredite que devido a futilidade desse meio e a falta de critério ela seria seguida e revolucionária a moda, talvez), mas a inteligência o que tem a ver com isso? Eu realmente não gostei de ver o pessoal fazendo chacota pelas costas colocando em descrédito todas as observações interessantes que ela fez apenas pelo casaco estranho que usava. Infelizmenre os presentes não sabiam, por exemplo, que um conhecimento vastíssimo em Literatura Brasileira, embora trabalhe com a Norte-Americana, um Doutorado na University of Indiana e etc.

Eu realmente não entendo mais esse raciocínio. Quer dizer que para ser considerado vc tem que se vestir como os outros se vestem e não como vc quer? Consequentemente só pode andar com gente que se vista assim. Hum... são todos iguais então. Cadê a graça?

Espertos são os estelionatários. Vc já viu algum mal vestido? Bobo é quem liga pra isso, tem mais chances de cair no golpe.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Eu tbm vou reclamar!

É o título de uma música do Raul Seixas que eu adoro. Ele diz, dentre outras coisas, que nem tinha mais vontade de reclamar das coisas, que já fez muito isso, mas como todos gostam ele vai voltar. Eu fiquei sabendo que a Globo pretende fazer uma minissérie como a que fez da Maísa sobre ele. Ai que medo! Eu não tenho TV há um ano e sou muito feliz com isso. Não sinto que realmente perco muita coisa. Quando o avião da Air France caiu só fui saber no dia seguinte, quando entrei na internet pra conferir as notícias do dia (coisa que só faço de manhã). Outra coisa que me pegou de surpresa a morte do Michael Jackson. Fui dar aula para os meus alunos publicitários (super antenados) e eles me deram a notícia. Achei que eles estavam me pregando uma peça, afinal, sabiam que eu não assistia TV.

Mas voltando ao assunto, depois desse tempo, limpa do vício televisivo, todas as vezes que me arrisquei a ver TV foi uma decepção. Nem a TV a cabo dá pra ver. A grande maioria das emissões não diz nada com nada, não chega a conclusão alguma e o pior, não tem graça. Sem falar no caso específico chamado rede Globo que ainda vende a imagem de "imparcialidade". Para mim ela tem o toque de merdas (uma versão do toque de Midas) que consegue estragar tudo que toca. Acabou com o Faustão (pra quem não sabe, o programa dele perdidos na noite fazia muito sucesso em outra emissora), com o Serginho e muitos outros. Eles não conseguiram contar fatos históricos, fizeram uma adaptação super "leve" e "politicamente correta" do livro "Ciranda de Pedra" e agora querem falar do Raul! O que farão com ele?!? Será que vão mudar a história dele?

Tenho vontade de dizer "O Raul NÃÃÃÃÃÃÃOOOOO! Poupem ele, pelo menos ele!!!!!!!!"

sexta-feira, 24 de julho de 2009

VOTEM EM MIM!!

Ainda não é pra política. Nem tão pouco o voto é obrigatório. Apenas gostaria que meus leitores tomassem conhecimento do concurso de bloggeiras e quem quiser votar no meu post, Feminista Vegetariana, sinta-se à vontade. Mas existem muitos outros posts interessantes.

Lá tem muitas outras informações. O que posso dizer é que é um concurso para promover blogs feministas e este aqui atende aos pré-requisitos. Se vc tem alguma coisa contra ou alguma dúvida sugiro então que leia os posts, podem ser muito esclarecedores.

domingo, 19 de julho de 2009

Forma x conteúdo (ou a anã de circo)

Encerrada a nossa grande e profunda enquete me sinto na obrigação de fazer algumas considerações sobre o tema. Jogados assim sem contexto fica um pouco difícil decidir entre um ou outro. Se pensarmos em objetos talvez a forma seja mais importante que o conteúdo, mas se for comprar uma caixa de bomboms concerteza é o conteúdo que lhe interessa. Muita gente marcou os dois, forma e conteúdo foram os vencedores da enquete (\o/).

Agora quando se trata de pessoas, será que podemos colocar ambos no mesmo patamar. Não é justo considerar a forma de alguém. Até porque forma está ligada a um padrão que é arbitrário e exclusivo. Pensemos em beleza. É algo natural que nos salta aos olhos... Na minha opinião não. Padrões e formas são impostos. Temos que nos adaptar e desejar a forma. Muita gente anda esquecendo o conteúdo...

Só para exemplificar vou contar uma história que se passou comigo. Estava eu num barzinho bem descolado em Brasília comemorando o aniversário da minha cunhada que é uma pessoa de quem realmente gosto muito. Já saí pra butecar algumas vezes com os amigos dela e do meu cunhado que são igualmente pessoas muito legais agradáveis e divertidas. Coincidentemente todas as vezes que encontrei com eles estava no meu normal: calça jeans, camiseta (algumas vezes bata) e tennis (na maior parte das vezes surrado mesmo). Nesse dia, o do aniversário eu estava beeem mais arrumada do que o normal. Nada demais tbm, mas o pessoal notou a diferença. Sentamos na mesa e começamos a conversar com o povo.

Na mesa a minha frente estava minha cunhada conversando com um casal. Passei meus olhos de relance e vi. Depois de algum tempo percebi que todos, ela e o casal olhavam na minha direção. Pensei: "Ela deve estar comentando que sou a esposa do irmão do marido dela, normal". Mas então me dei conta de que olhavam com uma certa insistência, demorando mais do que um papo desses demoraria. No mesmo instante algumas pessoas que estavam sentadas na mesa conosco foram embora e nós decidimos mudar de lugar para ficarmos mais próximos dos outros. Tive assim que passar na frente da minha cunhada e do casal que estava a essa hora olhando fixamente pra mim. Achei que a infalível tática de olhar meio pra baixo e passar rápido ia me deixar menos constrangida, mas quando realizava o movimento a moça do casal pos o braço na minha frente e disse "Desculpe a indelicadeza, mas posso falar com vc um instante?" Eu para ser educada disse: "Claro, isso não é indelicadeza nenhuma", desfechei a minha cara e me preparei para ouvir. Minha cunhada nos apresentou (o casal era composto por colegas de trabalho do meu cunhado - tradutores da Unesco). Minha cunhada pediu licença e se afastou me deixando sozinha com eles. E então a conversa começou (será que era pertinente dizer que tomei uma Bohemia Weiss e mais dois chopps caseiros de cerva tipo Ale? Acho que não, vcs vão perceber que não faz muito diferença no curso da conversa, apenas talvez que meu raciocínio ficou um pouco lento).

A moça então começou: "Eu estava reparando em vc, vc é a esposa do irmão do Cris não é?" Eu repondi: "Sim, e falei meu nome pra ajudar a conversa...", ela continuou: "Pois é, a gente tava reparando em vc, tão bonita... (eu pensei n besteiras nesse minuto, mas só consegui olhar para os lados e perceber que não tinha ninguém pra me socorrer) ... É que eu tenho uma filha mais ou menos do seu tamanho... (Eu juro que pensei que ela ia falar idade, mas realmente era difícil, a minha interlocutora era muito jovem para ter uma filha de 26). Quando me toquei no que ela havia falado: "Tamanho?, putz, lá vou eu ouvir histórias de uma menina de 12 anos (a idade que eu parei de crescer)." Nessa hora a moça se levantou e eu percebi que ela deveria ser um palmo maior do que eu, mas parecia maior porque usava salto. "É que eu fiquei reparando em vc toda arrumada e super tranquila sem salto..." Ela preparou o terreno e chutou a bola: "A minha filha tem uns 16 anos e é baixinha que nem vc." Nessa hora eu pensei: Vai perguntar o nome do meu terapeuta, como pode uma baixinha ser feliz com a aparência, só com tarja preta!. Mas foi um pouco diferente...

A moça continuou: "Ela também esta com um probleminha hormonal e está um pouco cheinha, mas ela está um pouco traumatizada, vc sabe, essa fase é difícil, as meninas ficam muito preocupadas com a aprencia, por causa dos rapazes..." Bom, eu já não estava mais entendendo o objetivo quando ela continuou: "Sabe dá pra ver que ela está infeliz com a aprência, mas não quer usar salto, só usa blusa larga... E eu vi vc assim toda arrumadinha sem problema nenhum em ser baixinha queria muito que ela visse vc, (Faltou ela falar "Existe vida na tampice! Minha filha pode ser feliz!) nem usa salto, não está nem aí para a altura e tá aí, casada sem problemas...

Nessa hora quase saiu da minha boca o meu raciocínio que foi o seguinte:

Desde que saí do circo a minha vida melhorou muito, afinal a vida de anã de circo não é fácil, mas agora, para que me preocuparia com uma coisa tão besta?

Mas a santa cerva me impediu, eu acho. Mas não fechei a noite em branco. Minha resposta foi: Me desculpa a indelicadeza, mas eu vou falar porque não tenho problema com a altura. Tenho 1,52, se colocar um salto de 10cm vou ficar com 1,62 ou seja, continuarei baixinha, mas uma baixinha de salto e com a diferença de estar completamente desconfortável. Quanto à sua filha, acho que vc deveria falar pra ela não se preocupar, ela pode ser uma mulher bonita mesmo sendo baixinha. E desculpa acrescentar outra coisa, mas eu acho os padrões de beleza atuais muito rígidos e despropositados. Não tem lógica querer que as brasileiras sejam loiras de cabelo liso quando se sabe que genéticamente a maioria de nós tem cabelo enrolado. Imagine, tacar formol na cabeça só pra ficar na moda? Outra coisa que eu acho, é uma questão de personalidade. Você olha para a maioria das mulheres na TV e nas revistas e elas são todas iguais, cabelo liso, loiro, luzes, quer dizer, sua filha tem bem mais chance de chamar a atenção sendo ela mesma. Não tem nenhum problema ela ser baixinha, quem ligar pra altura que fique longe dela, pois certamente será um idiota vazio! Ela não tem que mudar para agradar os outros, isso é ridículo.

Acabei de falar e me dei conta de um fato engraçado: a minha interlocutora era uma baixinha de salto e era loira. Não sei dizer se falsa ou não, mas descobri que ela era holandesa, ou seja, devia dar muita importância para a altura, imagine uma holandesa com 1,60? Acredito que ela deva ter sofrido e não consiga acreditar em alguém que não sofra com isso.

E agora me diga, o que é importante para você, forma ou conteúdo?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

J'en doute...

Será que é hora de tirar os poemas do fundo da gaveta e arriscar uma publicação... O problema de guardá-los no fundo da gaveta é que um dia você pode perdê-los. Como aconteceu com vários que eu realmente gostava muito. Ai ai, dois concursos literários por aí, um livro que dorme e acorda comigo na minha mente, poeminhas escritos durante uma vida inteira de fuga, falta de tempo, tempo, tempo... Como não tem chance de participar com um poema em outra língua vou colocar um pra vcs se deliciarem aqui:

Jaune

Mon coeur pleure et se tait
tous les fois que ma jeunesse
meure
La folle de ma mère espère tuer
tout le blé de ma fée
mais elle n'y fera jamais
dans ma vie sans automne,
jaune

Ass: eu mesma, Drixz

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Das trivialidades

De algum tempo pra cá tenho a impressão de que me tornei uma pessoa chata. Eu sei que isso se deve ao crescimento ou aguçamento do meu senso crítico, mas no lugar de ser uma qualidade como poderiam pensar, acho, em muitos casos, um defeito.

Nas mesas de bar, quando todos conseguem falar de trivialidades, da vida, do trabalho, do chefe, das unhas, da moda eu simplesmente só consigo me esforçar para disfarçar o meu tédio. Eu acho que parte disso se dá pela natureza do meu trabalho, autônoma. Eu posso dizer que tem um lado muito ruim, que é a instabilidade, mas existem outras vantagens. Eu não tenho chefe, não tenho rotina, não tenho enxeção de saco e ainda tenho uma sensação muito boa quando recebo de que o meu trabalho vale cada centavo do que recebo. Mas devido a essas particularidades, fico de fora da maior parte dos assuntos de buteco.

Outra coisa que venho notando é que depois de começar a estudar o feminismo eu não consigo mais rir das piadinhas sexistas, dói em mim. Ver gente falando mal de puta, de viado ou fazendo piadinha com baranga é apelação pra mim. Quando sou minoria na mesa, me calo, quando percebo que não adianta falar fico na minha, mas quando é com meus amigos mesmo eu falo, mas muitas vezes acabo com o clima festivo do momento e os deixo sem graça.

Ontem estava no barzinho com meu amore, um fotógrafo e um designer. Pela primeira vez em muito tempo consegui conversar com alguém sobre as coisas que venho estudando. Achei divertido porque eles desenvolviam a conversa e pareciam estar gostanto, tanto que fomos embora bem mais tarde do que planejamos. Não sei porque começamos a falar do relativismo dos critérios artísticos, passamos por um fotógrafo cego, falamos de Saramago x Paulo Coelho, Duchamp, rap, funk, clichês e é claro, literatura feminina. Mas o que mais me deixou feliz, não foi falar. Podemos falar sozinhos mesmo estando na mesa de um bar com os amigos. Fique feliz em conversar.

Tenho me tornado uma pessoa difícil, eu sei. Consigo agora entender o que uma colega da pós disse. "Nós não estamos mais abrindo mão de muita coisa!". E realmente, eu tenho deixado minha diplomacia de lado em muitos casos. "Você quer me converter? Então me vença na conversa. Não vou mais colocar panos quentes dizendo que tudo tem o seu valor se não concordo com isso. Religião pra mim é filosofia e portanto pode ser discutida e desmentida. Você acha que as mulheres são inferiores? Fale isso pra sua esposa. Você não liga pra política? Então não reclame de pagar impostos. Você acha a Europa maravilhosa? Vá morar lá pra ver como te tratam. Você não acredita em racismo? Pergunte a um negro se ele já sofreu com isso. Você acha que dinheiro é tudo? Reflita se o Michael Jackson foi feliz."

Eu concordo que existam conversar desinteressadas onde a trivialidade é agradável, mas será que não dá pra ser agradável conversando coisas menos triviais?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Impressões

Eu lembro de quando lia mais poesia e achava fantástica a capacidade que algumas tinham de olhar para objetos simples e dar uma profundidade inimaginável àquele objeto. Outras conseguiam captar uma emoção ou impressão tão fluída e analisar o que se passa na nossa mente ou no coração em um átimo de segundo. Me peguei pensando então se essas coisas acontecem com quem não lê poesia. É um pouco a reflexão do Discurso sobre o Método, do Sérgio Sant'anna.

Eu pensei nisso porque ontem, ao esperar dar a hora da minha aula, pois sempre acabo chegando uns cinco minutos mais cedo, olhei para a portaria do prédio da frente e lembrei da casa da minha mãe. A portaria era revestida de madeira e coincidentemente com a mesma decoração, um vaso de plantas e um espelho. Acho que muitas portarias são daquele jeito, mas aquela me pareceu incrivelmente igual a de mamãe. Lembre da época que morava lá e estranhamente me veio uma memória "objetal". Lembrei do meu primeiro quarto que dividia com a minha irmã, do poster do Guns que fui obrigada a tirar pois a picurrucha tinha medo. Lembrei das duas camas iguais com a cômoda no centro e o armário que era mais antigo e vinha da nossa outra casa e cujas portas estavam rabiscadas por dentro de palavrões e desenhos que eu e o Betinho fazíamos. Lembrei da maçaneta que vivia saindo na nossa mão e da prateleira que arrancou metade da parede por causa da minha teimosia em colocar todos os meus livros no meu quarto.

Acabei fazendo outra associação de idéias. Faz pouco mais de um ano que saí da casa da minha mãe e quando vou lá tudo parece tão diferente. Algumas vezes parece que faz séculos que não moro mais lá e outras tantas chego a ter a impressão de que a casa que morei não é aquela. Levo alguns minutos para achar os copos e ela já nem pede para eu ajudar a colocar a mesa pois demoro tanto para encontrar as coisas que acabo sendo inútil. Sempre tive a sensação de que aquela casa não era minha, mas agora ela estão tão distante das minhas lembranças. A comparação me faz ver que realmente me separei. Não só da família, mas da adolescência (ou da imaturidade, se vcs preferirem). Claro que muitas coisas ainda vão se resolver nesse meio tempo, outras tantas podem mudar, mas sinto como se o meu futuro estivesse tomando uma forma mais autônoma daquela que ligava todos nós naquela casa e naquela família.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Não cuspa pra cima,

pode cair na sua testa.

Eu sempre achei graça das pessoas extremamente inseguras que ficavam com manchas na pele de nervoso ao falar em público ou gagejavam loucamente. Algumas ficam roxas, outras afônicas. Eu nunca entendi a fundo esse drama porque meu pai tentava me dar força e dizer "Pessoas são como cachorros, se elas farejarem o medo em vc vão te morder!". Outra dica que ele me deu foi imaginar minha platéia como seres normais que "cagam" como qualquer um. Ele disse literalmente para imaginar a platéia cagando na minha frente. Realmente funciona. No primeiro instante vc sente uma vontadezinha de rir, mas logo passa e vc toma o controle da situação.

Mas agora confesso a vocês que nem os meus anos de sala de aula me poupam de algumas saias justas que tenho passado por pura timidez na vida acadêmica. Quando fui apresentar meu primeiro trabalho em congresso só tinha mestres ou doutores na minha mesa. Eu era a única "mestranda". Ai, como esse gerúndio me deixou nervosa! Todos já eram bem mais descolados que eu. Uma das melhores pesquisadoras que eu já vi falar em público, sobre o meu tema, estava lá. Ai ai. Se eu contar que tive dor de barriga antes de entrar na sala... Só lembrei do meu pai. Ele com certeza ia rir muito da situação. Ficou tão sério o negócio que eu realmente tive que ir ao toalete antes de entrar na sala. Mas felizmente o nervoso só durou o primeiro parágrafo da apresentação. Tive que me controlar pois eu estava engolindo as sílabas. Ninguém ia me entender. Me controlei, passei um slide e pronto, de volta a articulação normal das sílabas. Mas que dificuldade.

Sentir vergonha alheia por quem está em pânico é ruim, mas sentir na pele o pânico é outra coisa bem diferente. Espero que minhas próximas experiências sejam mais "tranquilas" e que eu recupere a minha platéia engraçada.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Feminista vegetariana

"Nada pior que uma feminista vegetariana!". Era o que eu (isso mesmo, euzinha) costumava dizer assim que entrei na faculdade. Outro dia, quando escrevi o post sobre Antifeminismo, me diverti lembrando de como eu criticava "legitimamente" as feministas. Tentei recuperar o meu raciocínio na época e eu realmente achei coisas interessantes. Veja se você não caiu em algum desses.

Eu andava com meus amigos e muitos deles eram homens. Eu queria parecer descolada. Sabe como é, pela primeira vez na vida eu deixava de ser a esquizita e para "melhorar" a minha auto-estima ainda estava 13 kilos mais magra do que era no segundo grau. Os meninos tinham uma verdadeira hojeriza de feministas. Era praticamente uma hunanimidade que feministas eram mulheres mal-amadas, de suvaco cabeludo e lésbicas. Hoje em dia eu não vejo nenhum problema de uma mulher ser assim, mas realmente para mim que estava descobrindo a minha "feminilidade" esse estereótipo me parecia mais uma ameaça.

Além disso, eu andava muito com os amigos do meu irmão, que fazia História Eu era caloura de Letras, mal tinha começado a estudar e vinha aquele povo todo me falando em Foucault, Marx, Hobsbam e etc. Eu realmente não entendia xongas do que eles falavam, mas achava tudo uma teoria da conspiração, gente que ficava procurando sarna pra se coçar. Além disso não conseguia dar muita credibilidade para aquele bando de filhinho de papai que queria mudar o mundo fumando maconha no CA. Não conseguia ver muita rebeldia nisso. Para completar, o curso de História tinha uma pós-graduação em Estudos Feministas, mas até onde eu fiquei sabendo dos boatos ele acabou por desavenças internas. Outra coisa que eu não conseguia entender muito bem era como as feministas queriam melhorar a condição da mulher se não conseguiam entrar em concenso. Claro que eu era beeem mal informada à respeito dos acontecimentos internos da UnB...

Para piorar a imagem que eu tinha do feminismo conhecia algumas feministas vegetarianas extremamente intransigentes. Aquele tipo de pessoa que quando você está comendo faminta ela chega pra você e começa a descrever o modo como aquele pedaço de carne no seu prato foi abatido ou então te chama de assassino. Elas eram agressivas em suas posições políticas e eu sempre gostei de uma boa discussão. Achava que deveriam me convencer na conversa e pra mim isso era apelação. Outra coisa que me ajudou a ter um pouco de medo das feministas foi uma professora que eu tive que nem dava nada relacionado ao feminismo, mas era do grupo das feministas da História. Ela não tinha empatia, isso era fato. Ficava irritada porque as alunas falavam mal o francês em sala e não conseguiam discutir mais profundamente os temas, mas a culpa era parcialmente delas. Outra coisa que me deixava reticente eram umas exigências despropositadas do tipo "sentem direito na carteira". Pra quê? Eu me perguntava. E essas pequenas coisas me ajudavam a concordar com os preconceitos: feministas eram exageradas e procuravam sarna para se coçarem.

Depois de muito tempo eu fui descobrir mais profundamente que o feminismo não impedia a minha sexualidade ou a minha "vaidade", mas ele ia me fazer refletir profundamente nas implicações que isso teria. Ao ouvir, o até então meu ídolo, meu irmão dizer "Sabe porque o papai sempre me mandava comprar pão no seu lugar? Porque ele dizia: - Vá comprar pão. É um favor que você faz à sua irmã. Ela é mulher, já vai sofrer tanto na vida...". E o meu irmão concordava com isso porque achava que eu ignorava a inferioridade da minha posição e sofreria mais ainda por ser uma mulher "inconformada".

Comecei então a notar a perversidade desses argumentos que refutam o feminismo. São argumentos tão bem construídos que estão em voga até os dias de hoje. Parece que o feminismo distancia as mulheres da normalidade - isso quer dizer, os papéis tradicionais (mãe e dona-de-casa). Fala-se com euforia da pouca contribuição masculina das tarefas domésticas como uma vitória feminista quando na verdade não passam de uma tentativa de "calar a boca" das feministas. Comemora-se a entrada na mulher no mercado de trabalho esquecendo que muitas vezes elas o fazem por terem sido levadas a terem filhos e depois abandonadas por homens que são obrigados a pagarem somente 30% dos seus salários enquanto as mulheres devem abrir mão de si mesmas para os filhos. Fico chocada ao ver as mulheres perdendo os cabelos em salões de quinta para ficarem com o cabelo liso ou ver nos lugares chiques uma proliferação gigante de loiras oxigenadas todas com o mesmo corte de cabelo ou ver na vitrine da C&A uma coleção para mulheres adultas inspirada na BARBIE!!!

Eu reconheço que em alguns casos há um exagero na postura, mas não no argumento. O feminismo não é o mesmo dos anos 70, mas talvez nos falte um pouco mais daquela postura militante. Acho que devemos tentar esclarecer um pouco mais da teoria para os leigos, afinal se você é feminista é porque já se convenceu da importância de se debaterem certas questões por outra ótica. Quantas mulheres ainda sofrem por serem gordinhas ou terem pouco peito sem saber da perversidade desse padrão? Se não há injustiças porque aquele parecer favorável à pedofilia do STJ? Porque prostituição é um problema feminino.

Eu fiz minhas pazes com o feminismo lendo O Espartilho de Lygia Fagundes Telles na aula da uma professora que me ajudou a me decidir entre a Literatura e a Lingüística escolhendo a primeira. Ela me mostrou como pode passar visões intencionadas que reflitam ou apenas repitam idéias pré-concebidas. Será que posso ser a intermediária dessa relação pra mais alguém? Espero que sim.